sábado, junho 12, 2021

Inquietação


"Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda"
José Mário Branco
Mas que inquietação é esta... ensinaram-me que a inquietação que sinto da frase "A quem muito é dado muito será exigido" não pode vir de Deus, porque o que vem de Deus dá-nos paz, deixa-nos num lugar de amor e serenidade... então e esta inquietação? de quem tem de fazer mais, ser mais forte, lutar mais por um mundo melhor? Essa certeza está em mim e deixa-me inquieta por não saber por onde ir... a vida passa, corre e nós corremos atrás dela... o mundo é tão, mas tão injusto que fico com um nó na garganta e um murro no estômago só de perceber as dificuldades que algumas pessoas vivem. Jesus não sentia inquietação? Como posso ser feliz se à minha volta há miséria? Por onde posso ir? que caminhos traçar?
São tantos os caminhos por onde ir que quase sempre me fico pela ideia inicial. A inquietação também é esta, porque não consigo acabar nada daquilo que comecei?! Só na consistência é possível fazer a diferença!
Oiço esta música e fico tão feliz de a sentir, de a sentir a vibrar em mim... há tanto, mas tanto que me inquieta! O saber-me profundamente amada, o olhar para a minha vida e sentir-me imensamente abençoada não acalma a minha inquietação... a minha angustia... a frase que vezes e vezes sem conta me diz, "a quem muito é dado muito será exigido"

domingo, junho 06, 2021

Desabafo...

 Dou por mim a pensar na importância de um desabafo... porque é importante? Porque me sinto importante quando alguém desabafa comigo? Esse alguém confiou em mim. Esse alguém tem consideração por mim, por aquilo que poderá vir da nossa conversa, da nossa interação, que insights, que caminhos e que visões poderão sair de uma situação que por vezes parece sem fundo. Não entendo uma vida de aparência, fingir que estou bem serve para quê? Somos todos tão diferentes, entre livros abertos e pessoas que falam de tudo com todos a pessoas que não confiam nem na própria sombra. Fechadas, enclausuradas nos seus problemas que consideram só seus e em que ninguém é digno da sua partilha. Talvez não seja não ser digno, talvez seja não querer incomodar. Ou achar que ninguém tem nada a ver com isso. Ou simplesmente não saber fazê-lo, nem saber por onde começar... Mas o que é uma vida não partilhada?! Onde partilhas triunfos e coisas boas e metes para debaixo do tapete tudo o que corre mal... Quem ensinou alguém a fazer isso? A familia? A mim ensinaram-me a partilhar os meus problemas, a espalha-los pelo mundo? Ou fui eu que aprendi sozinha que partilhando o fardo parece ficar um pouco mais leve? Para mim a amizade faz sentido assim, se estou bem estou bem, conto coisas boas, estamos juntos, rimos juntos, se um amigo não está bem eu estou lá para pegar, escutar, não julgar, ajudar, se eu não estou bem digo que não estou bem...

Hoje ouvi na Inspiração para uma Vida Mágica que um desabafo é uma prenda, é um momento único de partilha e bateu certo com aquilo que penso...

Seja o que for, a nossa vida vai acontecendo e com ela vamos nos sentindo inspirados, desesperados, tristes, felizes... 

Quantas vezes partilhei algo da minha vida e alguém me ajudou a compreender melhor aquilo que eu própria estava a sentir. Quando concretizas em palavras as tuas emoções e vivências percebes melhor o que são. Quando ouves algo que de repente ressoa em ti e te dá esperança ou outra visão...

Precisamos uns dos outros, é tão simples quanto isso e não penso nada que quando me desabafam uma situação me contaminam com o problema ou com a má energia e que vou ficar chateada. Fogo, valorizo imenso essa confiança e acredito mesmo que os laços são feitos disso.

De que serve saber que alguém que eu adoro esteve a sofrer durante meses, anos em solidão.

Não espero receber desabafos de todas as pessoas que conheço, há sempre as mais próximas e as menos, mas preocupa-me as que sei que são próximas e mesmo assim não partilham. Quanto mais silêncio pior :-(

Há silêncios ensurdecedores...

segunda-feira, fevereiro 01, 2021

Amizade

 Penso na minha melhor amiga e em como a nossa amizade evoluiu ao longo dos anos... olho para os meus pais e para as suas amizades de anos e anos...

Penso naqueles amigos com quem já não estou há anos e que no dia que nos encontramos é tão bom estarmos juntos, partilhamos a vida como se ainda tivemos juntos nas circunstâncias que nos uniram... como se estivéssemos no cemitério da Ferreira Dias horas a fio depois das aulas, ou num Pub da Fulham Road a beber pints, ou no bar da faculdade e na Associação de estudantes...

Será que a amizade é mesmo assim ou somos nós que a fazemos assim, evolui ao longo dos anos...

A amizade com o meu irmão, os meus pais, o André, as minhas filhas, os meus sobrinhos...

E aqueles amigos de sempre e para sempre mas que a forma da amizade se modificou tanto. Já não partilhamos a vida todos os dias, as opiniões, o que nos preocupa, os insights, a dor, as conquistas, as alegrias. Pequenos detalhes, medos...

Esses pequenos/grandes assuntos da nossa vida acabam por ser partilhados com quem está mais perto... colegas de trabalho, e onde ficam aquelas pessoas que nos conhecem de alto abaixo, por dentro e por fora?

Aquelas com quem crescemos e nos formamos nas pessoas que somos.

A Lara compreende o que é uma amizade? Uma amizade a sério? 

Daquelas que crescem devagarinho, mas que a pessoa se preocupa e fala contigo, as conversas alinham-se 

Essa pessoa é a nossa companhia, faz-nos rir, gosta da nossa companhia, partilha alguma coisa connosco.

Onde anda essa amizade?


quinta-feira, abril 30, 2020

Tristeza de profissão :-(

Um pensamento não me larga...”odeio ser enfermeira” odeio esta profissão de merda, mal paga, desconsiderada, onde não te podes revoltar porque tratas de pessoas, “sais fora de horas” porque tens pessoas que precisam de ti, porque são pessoas vulneráveis a quem nunca poderias não cuidar, não porque te pagam mas porque é o instinto mais natural no ser humano.
Não progrides na carreira, mas progrides na responsabilidade, o impacto na vida da comunidade e do outro aumenta mas não aumenta o teu salário. E com o teu salário de merda (principalmente quando comparado com outros) tens de viver...
Vês toda a gente à tua volta bem, pessoas que trabalham em frente a computadores, que gerem “projetos”, que fazem sabe Deus o quê...
Tou farta deste mundo virado ao contrário. Farta.
Farta de sentir que não poderia ser nada de diferente daquilo que sou, que na sua essência adoro ser enfermeira mas que ser desrespeitada ano após ano após ano me deixa a sentir-me um bocado de merda.
E agora este vírus só veio aumentar este sentimento... trabalhar presa dentro de fatos, viseiras e máscaras que nos sufocam, luvas em cima de luvas em cima de luvas, sem poder sequer comunicar efetivamente com os doentes que já por si estão ali, numa cama de hospital, sem visitas, atrás de uma porta fechada... dói na alma, é confuso trabalhar assim, atirada para um serviço de internamento onde estou a conhecer os colegas pela primeira vez e em quem tenho de confiar de olhos fechados. Adquirir novas formas de trabalhar e comunicar, com uma máscara de tal maneira fixa na cara e durante tantas horas que no outro dia acordei e levei as mãos à cara para tirar a máscara :-/
Tudo é contra natura e tudo teve de se tornar rotina numa hora, num segundo... e estás em modo “sobrevivência”, e vais ultrapassando uma e outra dificuldade, pingas de suor por debaixo de batas impermeáveis com as quais prestas cuidados a quase 30 doentes...
Falas com os confusos, tentas puxar por eles para que te falem de filhos e netos e profissões e histórias de vida, alguma coisa que os faça conectar ao mesmo tempo que olhas para o estado geral, para sinais de dificuldade respiratória... estás em cima do doente e ele tosse para cima de ti e de repente lembraste que tem covid... que agora é tu que tens as gotículas em ti e que ou cumpres todos os passinhos quando tirares o fato ou ficas infetada... mas é tanta coisa a cumprir e tão fácil errar... mas não podes ter medo, não podes mesmo, isso fará de ti uma pessoa paranoica... E nós não queremos isso. Mas se te infectares sabes que pelo caminho infectas as tuas filhas e o teu marido asmático...
Sinto que há uma injustiça social tremenda, as pessoas não sabem o valor que tem cuidar do outro, protegê-lo e tratá-lo com toda a dignidade que qualquer ser humano merece. Talvez o saibam quando precisam, mas rapidamente o esquecem...
Não somos mais que os outros, mas também não somos menos e é triste saber que somos lixo nesta sociedade L

domingo, abril 14, 2019

39 aninhos

Hoje olho para a minha vida e vejo fases...
Sinto que já vivi tanto, quase como se me senti-se velha...

A fase da confusão, das encruzilhadas, de querer tudo ao mesmo tempo, da não decisão, a fase em que absorvia tudo e todos à minha volta, fazia amigos em qualquer ocasião, tudo ganhava uma dimensão gigante e sentia que precisava de agarrar a vida com todas as minhas forças...

A fase da calma, da certeza do que queria para a vida, da transparência... de me entregar aos quereres de outra pessoa, de viajar, caminhar, subir montanhas. A fase em que os amigos permanecem, em que já não apetece trocar contactos só porque sim (é inútil, não vai dar tempo para estar com toda a gente e mais vale preservar os bons)... A fase do "gosto do que faço mas a minha vida não é trabalho"...
Mas também sentir que o mundo é enorme mas nós somos livres e podemos ir para onde quisermos... hoje estou aqui e amanhã posso mudar completamente a minha vida e a felicidade está em nós e não nas nossas circunstância... Posso morar em qualquer lugar, trabalhar em qualquer coisa (sendo enfermeira, digamos que essa não limitação é um querer) e viver o mundo como nós quisermos, desde que juntos e sem perder o contacto com quem nos ama...

E depois chegou a fase dos frutos, de querer ser mãe, sem saber muito bem o que isso implicava, tudo fazia sentido... a fase de voltar para junto da família, de ser família e de crescer desta forma, e dentro desta fase existem tantas pequenas fases... o voltar, o adaptar...
A fase em que ainda continuamos a viajar, a escalar, a fazer desporto... a queda, a doença, o ténis, a bicicleta, o aquário, o piano...
o ver os amigos nas festas de aniversário dos filhos, o tentar conversar com crianças continuamente a falarem connosco, o virar cada vez mais para a família...
Tou na fase do "não faço ideia para onde vai o tempo e sinto-me continuamente cansada mas nem me posso queixar porque todos os dias vejo vidas bem mais complicadas que a minha e a vida que eu tenho é a que eu escolhi e até tenho muita sorte porque tenho pais maravilhosos, marido maravilhoso, filhas lindas, irmão, cunhados sobrinhos, sogros, amigos tudo maravilhoso, saudável e bem..." Não sei para onde vai o tempo, não tenho nada a que me dedique e não sei lá muito bem quem é que sou neste momento...
Ando à procura não sei bem do quê nem onde... desenvolvimento pessoal, inspiração para uma vida mágica enquanto conduzo no meio do transito de um lado para o outro (quando cheguei a ter a fase em que acreditava que NUNCA iria ter a carta de condução porque detesto tudo o que tem a ver com carros)...
A fase em que estamos presos a um lugar, temos de comprar casa ali, condicionados por uma série de factores que não são propriamente a nossa vontade mas sim aquilo que acreditamos que neste momento será o melhor para a vida das nossas filhas...
A fase em que estou cansada e em que me gostaria de sentir mais livre, menos presa à rotina de começar o dia sempre a perder, atrasada para tudo.
Tudo faz sentido, tudo é fruto de escolhas ponderadas, opções feitas em plena consciência e com muito amor...
Creio que saí da encruzilhada mas talvez ela nunca tenha saído de mim... esta forma de encarar a vida sempre de duas formas tão distintas mas que não me fazem perder o chão...
Tive uma fase em que a única certeza que tinha do que fazer com a minha vida era que "não queria ter a vida rotineira que os meus pais tinham", assustava-me tanto pensar numa vida de acordar um dia atrás do outro e repetir dia após dia os mesmos gestos, anos a fio...
Ainda me assusta pensar nisto, mas estou aqui, totalmente embrenhada nesta forma rotineira de viver mas em que nenhum dia é igual ao outro...
Consigo imaginar a minha vida de outra forma, se tivesse feito outras opções, não faço ideia se seria feliz, creio que sim, mas sei que sou feliz hoje...
Tudo é um contrasenso... faz-me falta tempo para dar sentido a muita coisa na minha vida... tive uma fase em que andava bem menos cansada mas em que sinto que fazia muito mais do que aquilo que faço agora...
Tou na fase do "em que é que eu posso evoluir e melhorar a minha vida e a vida das pessoas que me rodeiam, como é que eu posso dar sentido a tudo isto? estar presa a um crédito, a um prédio de 9 andares com vista para outros prédios no meio do suburbio, do transito, dos supermercados, do plástico, da gasolina, das estradas..."
Tudo o que eu queria era poder ir a pé levar as miúdas à escola, poder ir trabalhar a pé ou de bicicleta e ter um pouco de terreno para cultivar uns legumes... gostava de estar inserida numa comunidade, participar, contribuir... parece serem coisas mesmo muito difíceis de chegar...
A vida é feita de fases... que fase virá a seguir?

domingo, outubro 07, 2018

desanimo animado ou animo desanimado

meditar 3 minutos por dia... rezar 5 minutos por dia, ler 15 minutos por dia, trabalhar 8 horas por dia, ser mãe e namorada o máximo de horas possíveis por dia, e com a melhor qualidade, disponibilidade, porque a vida não pára, pelo contrário, corre, corre cada vez mais... "e tem cuidado, quando olhares para trás a vida passou e tu nem deste por ela..." e tu queres agarrar os momentos, agarras-te às gargalhadas contagiantes, aos abraços apertados, às descobertas, ao entusiasmo... tentas tirar fotos mas perdes sempre o momento perfeito, tentas filmar mas lá vem uma birra.

Queres viver tudo, ser tudo ao máximo... não vais conseguir. Sentes a fatiga, a falta de energia para ir mais além no trabalho, para lutares pelos teus ideais, por aquilo que sabes que os teus doentes precisam, dedicação, atenção, conhecimento, envolvimento... resolução de problemas, alguém que realmente se importe com a sua doença, e é uma doença, tão mas tão má :-( mas mais do que isso, que se importe consigo, com aquilo que se passa com o seu corpo, com a sua mente, com a sua vida...

E nós que andamos sempre atrasados, o jantar é sempre tarde, a história é sempre a correr, as brincadeiras queriam continuar... temos de dormir, dormir é mesmo muito importante para conseguir aprender e é sempre, mas sempre tarde... e sempre com autoridade, com voz seca, zangada, "já prá cama!"
Mas elas são tão lindas. só querem a história, o pirlimpimpim e muitos beijinhos...

Queria ter mais energia, mas nem as vitaminas me arrebitam, só vejo coisas por fazer, e os meus projectos? O exercício fisico? o livro que ia escrever? o voluntariado com refugiados? a missa? os amigos? a família? A casa desarrumada? A roupa? a loiça? o jantar?
Enfim... carpe diam, deixa fluir, estamos juntos...

Tenho mil coisas para agradecer, esta vida que é uma benção, é tão, mas tão abençoada :-)
A frustração deita-nos a baixo, mas acomodarmo-nos é que não! A eterna insatisfação dá-nos asas para sonhar mas também nos desanima...


olhar para quem era e ver quem sou, saber que
o sou porque me tens, porque me amas... porque sou totalmente tua
porque o teu amor esticou tanto, mas tanto o meu coração...
amo todas as nossas aventuras, as nossas loucuras, os nossos futuros, os nossos passados...
as voltas que a vida dá e tudo o que aprendemos com isso como só nós os dois! amo-nos...

sexta-feira, setembro 22, 2017

Sr. Presidente,

Gostaria apenas de compreender porque motivo sente que não pode expressar a sua opinião sobre o que se passa na enfermagem na actualidade.

Neste momento sinto uma enorme desilusão numa pessoa que até agora considerei uma pessoa de bem que tem sido muito importante no erguer da dignidade dos Portugueses, na nossa valorização e sentimento de pertença.

Um presidente que ceou com a equipa multidisciplinar que se encontrava de urgência no Hospital de S. José na noite de Natal demonstra um respeito e consideração enorme pelos profissionais de saúde, pelas pessoas que trabalham em prol da sociedade.

Num presidente interventivo, que diariamente entra nas nossas vidas (através dos telejornais) com as suas opiniões sobre todos os assuntos da actualidade considero este silêncio uma falta de respeito.

Gostava sinceramente que me explica-se porque não fala sobre as reivindicações dos enfermeiros, porque não fala sobre as condições de trabalho a que estamos sujeitos e sobre a justiça que exigimos.

É muito triste.

Joana Mateus Pedro