sexta-feira, setembro 22, 2017

Sr. Presidente,

Gostaria apenas de compreender porque motivo sente que não pode expressar a sua opinião sobre o que se passa na enfermagem na actualidade.

Neste momento sinto uma enorme desilusão numa pessoa que até agora considerei uma pessoa de bem que tem sido muito importante no erguer da dignidade dos Portugueses, na nossa valorização e sentimento de pertença.

Um presidente que ceou com a equipa multidisciplinar que se encontrava de urgência no Hospital de S. José na noite de Natal demonstra um respeito e consideração enorme pelos profissionais de saúde, pelas pessoas que trabalham em prol da sociedade.

Num presidente interventivo, que diariamente entra nas nossas vidas (através dos telejornais) com as suas opiniões sobre todos os assuntos da actualidade considero este silêncio uma falta de respeito.

Gostava sinceramente que me explica-se porque não fala sobre as reivindicações dos enfermeiros, porque não fala sobre as condições de trabalho a que estamos sujeitos e sobre a justiça que exigimos.

É muito triste.

Joana Mateus Pedro

sexta-feira, setembro 08, 2017

Sr. Presidente da República,

Venho por este meio tentar transmitir-lhe a perspectiva de uma enfermeira estupefacta e revoltada com o que se passa neste país.

Quero ser enfermeira desde os meus 5 anos. E sou enfermeira desde 2001.
Em todos os locais onde trabalhei amei sempre o que fiz, a essência da minha profissão, o cuidar, o ir mais além, o poder fazer a diferença na vida de alguém que se encontra vulnerável.

Dou por mim agora a perceber que é o facto desta profissão implicar esse lado humano tão intenso e tão altruísta que a torna tão frágil e tão fácil de espezinhar. Porque as greves são sempre com um respeito total pelo doente, porque nós não abandonamos doentes nem as nossas funções por menos que nos paguem ou nos considerem.

E agora acontece que houve força para lutar de uma forma totalmente legitima e com imenso impacto. Uma greve de zelo, os enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica  que pagaram em dinheiro e em tempo a sua especialidade (sem o mínimo apoio) e que as maternidades aproveitaram o conhecimento mas sem nunca mudarem o contrato (ou seja, sem sequer se protegerem a si próprios daquilo que está a acontecer agora) resolveram parar de fazer aquilo que faziam por boa vontade e exigiram ser pagos por essa enorme responsabilidade.

E o que aconteceu no país? Um ataque total aos enfermeiros. Que sempre andaram tão calados porque nunca se uniam por cansaço, por desanimo, por desesperança.

Agora uniram-se mas tudo o que é transmitido na comunicação social é um total desprezo por esta profissão. É uma manipulação das pessoas contra os enfermeiros.

Como enfermeira sinto-me desrespeitada e a ser tratada como lixo, como tal, e sem dignidade, olho para mim a ir trabalhar, e não deixarei de trabalhar (nem que seja porque preciso do dinheiro) mas com vontade de fazer o mínimo seja por quem for.

E é triste, muito triste mesmo porque durante 15 anos da minha vida sempre dei tudo o que tenho e sempre amei o que faço.
Hoje dou por mim a olhar para esta profissão totalmente desrespeitada e pensar que se algum dia uma das minhas filhas me disser que quer ser enfermeira irei tentar impedi-lo com todas as minhas forças.

Se eu me sinto assim não devo ser a única. Deixar de dar o máximo e passar a dar o mínimo indispensável para não perder o emprego vai ter impacto na saúde deste País.

Por favor, tente perceber o que realmente se passa e ajudar a que a Enfermagem seja tratada com respeito.
Obrigada