domingo, abril 14, 2019

39 aninhos

Hoje olho para a minha vida e vejo fases...
Sinto que já vivi tanto, quase como se me senti-se velha...

A fase da confusão, das encruzilhadas, de querer tudo ao mesmo tempo, da não decisão, a fase em que absorvia tudo e todos à minha volta, fazia amigos em qualquer ocasião, tudo ganhava uma dimensão gigante e sentia que precisava de agarrar a vida com todas as minhas forças...

A fase da calma, da certeza do que queria para a vida, da transparência... de me entregar aos quereres de outra pessoa, de viajar, caminhar, subir montanhas. A fase em que os amigos permanecem, em que já não apetece trocar contactos só porque sim (é inútil, não vai dar tempo para estar com toda a gente e mais vale preservar os bons)... A fase do "gosto do que faço mas a minha vida não é trabalho"...
Mas também sentir que o mundo é enorme mas nós somos livres e podemos ir para onde quisermos... hoje estou aqui e amanhã posso mudar completamente a minha vida e a felicidade está em nós e não nas nossas circunstância... Posso morar em qualquer lugar, trabalhar em qualquer coisa (sendo enfermeira, digamos que essa não limitação é um querer) e viver o mundo como nós quisermos, desde que juntos e sem perder o contacto com quem nos ama...

E depois chegou a fase dos frutos, de querer ser mãe, sem saber muito bem o que isso implicava, tudo fazia sentido... a fase de voltar para junto da família, de ser família e de crescer desta forma, e dentro desta fase existem tantas pequenas fases... o voltar, o adaptar...
A fase em que ainda continuamos a viajar, a escalar, a fazer desporto... a queda, a doença, o ténis, a bicicleta, o aquário, o piano...
o ver os amigos nas festas de aniversário dos filhos, o tentar conversar com crianças continuamente a falarem connosco, o virar cada vez mais para a família...
Tou na fase do "não faço ideia para onde vai o tempo e sinto-me continuamente cansada mas nem me posso queixar porque todos os dias vejo vidas bem mais complicadas que a minha e a vida que eu tenho é a que eu escolhi e até tenho muita sorte porque tenho pais maravilhosos, marido maravilhoso, filhas lindas, irmão, cunhados sobrinhos, sogros, amigos tudo maravilhoso, saudável e bem..." Não sei para onde vai o tempo, não tenho nada a que me dedique e não sei lá muito bem quem é que sou neste momento...
Ando à procura não sei bem do quê nem onde... desenvolvimento pessoal, inspiração para uma vida mágica enquanto conduzo no meio do transito de um lado para o outro (quando cheguei a ter a fase em que acreditava que NUNCA iria ter a carta de condução porque detesto tudo o que tem a ver com carros)...
A fase em que estamos presos a um lugar, temos de comprar casa ali, condicionados por uma série de factores que não são propriamente a nossa vontade mas sim aquilo que acreditamos que neste momento será o melhor para a vida das nossas filhas...
A fase em que estou cansada e em que me gostaria de sentir mais livre, menos presa à rotina de começar o dia sempre a perder, atrasada para tudo.
Tudo faz sentido, tudo é fruto de escolhas ponderadas, opções feitas em plena consciência e com muito amor...
Creio que saí da encruzilhada mas talvez ela nunca tenha saído de mim... esta forma de encarar a vida sempre de duas formas tão distintas mas que não me fazem perder o chão...
Tive uma fase em que a única certeza que tinha do que fazer com a minha vida era que "não queria ter a vida rotineira que os meus pais tinham", assustava-me tanto pensar numa vida de acordar um dia atrás do outro e repetir dia após dia os mesmos gestos, anos a fio...
Ainda me assusta pensar nisto, mas estou aqui, totalmente embrenhada nesta forma rotineira de viver mas em que nenhum dia é igual ao outro...
Consigo imaginar a minha vida de outra forma, se tivesse feito outras opções, não faço ideia se seria feliz, creio que sim, mas sei que sou feliz hoje...
Tudo é um contrasenso... faz-me falta tempo para dar sentido a muita coisa na minha vida... tive uma fase em que andava bem menos cansada mas em que sinto que fazia muito mais do que aquilo que faço agora...
Tou na fase do "em que é que eu posso evoluir e melhorar a minha vida e a vida das pessoas que me rodeiam, como é que eu posso dar sentido a tudo isto? estar presa a um crédito, a um prédio de 9 andares com vista para outros prédios no meio do suburbio, do transito, dos supermercados, do plástico, da gasolina, das estradas..."
Tudo o que eu queria era poder ir a pé levar as miúdas à escola, poder ir trabalhar a pé ou de bicicleta e ter um pouco de terreno para cultivar uns legumes... gostava de estar inserida numa comunidade, participar, contribuir... parece serem coisas mesmo muito difíceis de chegar...
A vida é feita de fases... que fase virá a seguir?