terça-feira, outubro 25, 2016

vazio preenchido ou uma plenitude vazia

Sinto-me vazia... esgotada... na correria do dia a dia, sem tempo, sem vontade de ir mais fundo... já fui uma pessoa "profunda", espiritual, uma pessoa capaz de absorver o tanto que a rodeava... que ficava horas a escrever, a rezar, a pensar sobre acontecimentos, circunstâncias... que de uma vivência tirava mil conclusões e vibrava com os "pequenos nadas" do dia a dia... tirava deles as maiores lições de vida... e da partilha com amigos a construção dessa crença de que a vida é sempre mais e de que estava a construir algo...
o "a quem muito é dado muito será exigido" bloqueou-me... deixou-me sem chão quando dei por mim a vacilar... a não conseguir dar mais... Ser mais para os outros, para o mundo, para mim...

Onde está essa pessoa? Agora não tem tempo nem energia... agora o tempo e a energia vão para este dia a dia de birras e gargalhadas, ciúmes e cumplicidades, brincadeiras de faz de conta, gritos de guerra e muitas dúvidas de estarei a fazer o meu melhor?... podia fazer mais?... o cansaço leva o melhor de mim?...

Tudo o que vivi até hoje, todos os livros que li, música que ouvi, concertos que fui, tudo o que viajei, namorei, partilhei... tudo me construiu... tudo me ajuda hoje a ser quem sou... mesmo que com pouca força... sei que está tudo lá à espera novamente para brotar, para Ser...

Elas merecem o melhor de mim... ser mãe e esposa não pode significar anular-me, deixar de existir... pelo contrário... se o fizer que espécie de mãe e de esposa serei eu... mas assusta-me esta minha necessidade de abstração... de precisar deste vazio, de ter um momento sem esforço e sem "função", aquele momento de atirar tudo para o ar e nem ler, nem estudar, nem correr, nem organizar, nada... o nada é a minha fuga...
preciso de me encontrar comigo... com aquela Joana deste blog... com a Joana que busca respostas, que procura todos os dias ser melhor...
mas e o tempo, e as horas, os minutos e os segundos... onde estão? onde posso ir buscá-los?
Depois de 7 anos em urgência mal de mim se não souber quais as prioridades...
O que é que será exigido agora?

Tenho medo de me perder e nunca mais me encontrar... preciso dos outros... daqueles que estão na minha vida desde sempre, aqueles que puxam por esta Joana... saberão eles relembrar-me, encontrar-me algures lá dentro perdida...

Que estranha é esta sensação de nunca ter imaginado que a vida me traria até aqui... numa felicidade imensa de saber aquilo que quero, de ser uma pessoa transparente, verdadeira, espontânea, resiliente e de bem com a vida... de ter a meu lado a pessoa que mais adoro e ter 2 princesas absolutamente maravilhosas... mas a ambivalência, a insatisfação não me poderá deixar nunca! Nem que seja na forma de saber que a vida tem, é mais... A vida precisa de mais respostas que a passividade da minha tentativa de "dar o melhor para as minhas filhas!"

Continua a existir a Síria, os emigrantes, os refugiados, os pobres, os que sofrem de injustiças e o mundo gira cheio de desigualdades, poluição... Tem de haver mais que eu possa fazer...
sinto-me pouco no muito que me sinto...