quinta-feira, agosto 26, 2010

ser emigrante

É nunca estar bem onde se está, é querer estar em dois lugares ao mesmo tempo, é estar bem em dois sítios completamente diferentes…

É não conseguir encontrar palavras para expressar aquilo que se quer dizer, ficar lost in translation… é ter saudades, muitas saudades! De tudo, da vida que sempre tiveste até ao dia que partiste, a família, os amigos, a tua rua, o café, a comida, o sol, o mar, a tua cidade, o tudo ser familiar, o tudo ser fácil, o saber sempre o que fazer, onde ir, com quem estar, o conforto do que conheces… trocar tudo isso por um sentimento de não pertença, de não saber bem onde estou, como lá fui parar e o que fazer… achar as pessoas estranhas, tudo diferente, criticar, ser criticada, ser vista como um ET…

É ser gozada por não saber o significado do que estão a falar, é estar em constante esforço e concentração para apanhar as conversas, para criar amizades, para criar pertença… é ser incompreendido, é não compreender… é sobreviver num mundo que não é o teu, e aos poucos aprender a viver…

É encontrar pessoas fantásticas com quem partilhar tudo isto, é sentir uma união e cumplicidade com essas pessoas que é difícil encontrar noutras situações…

Mas é também a aventura, de descobrir que o mundo não é tão simples como me foi dado a conhecer, que é enorme e vivê-lo é tão diferente de sabê-lo! É conhecer pessoas de diferentes culturas, é ser constantemente surpreendido e de certa forma sentir-me outra vez como uma criança a viver novidades, descobertas… é perceber que sou capaz de mais do que alguma vez imaginei, descobrir potencial onde sempre achei que havia fraqueza e olhar para trás e ver um percurso percorrido… com dificuldade mas com conquistas incríveis! É saber que não seria quem sou hoje se não tivesse emigrado…

É ganhar um amor enorme às origens, à minha terra, à minha gente, é chorar de emoção na praça D. Pedro IV e tirar fotografias a Lisboa, é perceber a quantidade de coisas espectaculares que Portugal tem, a nossa cultura, a nossa postura… é finalmente entender o Fado e deixar-me encantar por esta música… perceber a sua melancolia e paixão…

É sentir uma ligação especial com qualquer português que encontro por cá e perceber a importância da língua…

É perder pedaços essenciais da vida dos meus amigos e família… é perder casamentos, amigas grávidas, bebés a nascer e crescer… festas, o cafezinho, os dias menos bons, o pouco tempo que as minhas avós têm/teve… é não estar lá… é o vazio da ausência na vida das pessoas mais importantes da minha vida… é sentir que nada no mundo vale mais que isso…

É desenvolver um enorme sentido crítico, comparar vivências, conseguir ver onde se poderia fazer diferente… mas é também desenvolver uma imensa capacidade de adaptação, “primeiro estranha-se e depois entranha-se” e uma enorme capacidade de engolir sapos, e de pensar “eu não sou de cá, vim só ver a bola…” é questionares se ainda és mesmo tu que estás ali…

É andar de bicicleta para todo o lado, é aprender a dar imenso valor a um dia de sol… é ir a festas em barcos, festivais de música com lama, ter montes de férias, ter um parque em cada esquina… é saber que a felicidade não depende de onde estás mas sim do que vives… é saber que quem amas e quem te ama estará sempre lá, mesmo que percas momentos importantes…

Para o bem e para o mal nunca o viveria se não fosse o André e nunca o teria sobrevivido sem ele, e não há outro lugar no mundo onde eu queira estar mais do que estar ao lado dele, a viver estas e outras aventuras, sempre J